O tamanho do distúrbio

É muito fácil ter um distúrbio alimentar quando você é gorda. Todo mundo te parabeniza por ter um. Se você não come, é melhor, porque se está gorda é porque comia demais mesmo. Se você se exercita demais, tudo bem, porque tem bastante gordura pra queimar. Se toma remédio, se bota pra fora, melhor ainda, porque acelera o processo. Parabéns, gorda. Você não quer ser gorda a vida inteira. Toma aqui um biscoito — mas não come não, ou vai botar tudo a perder.

É conveniente ter um distúrbio alimentar quando você é gorda. Ninguém olha pra você e pensa que você está doente; não por isso. Tem colesterol alto, tem diabete, tem pressão alta, seus ossos estão fodidos, seu corpo está pedindo arrego, mas tudo porque você é gorda. Distúrbio é coisa de gente magra. Você, gorda que não come, gorda que se mata de malhar, gorda que conta caloria e chora na frente do espelho e segurando o comprimido na ponta do dedo, você é cuidadosa. Você está no caminho certo. É o que o mundo espera de você. É o mínimo de castigo pelo crime de ocupar tanto espaço.

É silencioso ter um distúrbio alimentar quando você é gorda. Ninguém percebe os padrões, ninguém nota a diferença. Se não dá pra ver seus ossos, se seus olhos não estão saltando e se sua garganta ainda não apodreceu, você está mesmo doente? Pode gritar, gorda. Pode chorar sozinha. Ninguém vai reparar em você porque você está fazendo o que todo mundo faria na sua situação. Ninguém quer o seu corpo, gorda. Você também não devia querer. Quebre-o no meio, amasse, destrua-o se preciso. Sua doença é ser gorda. Sua mente vai se curar quando você emagrecer.

É solitário ter um distúrbio alimentar quando você é gorda. Quando você não se encaixa nem no padrão da doença, quando todo mundo te da parabéns, quando ninguém percebe, quando é o que se espera — então qual é o problema? Estou só fazendo o que todo mundo me ensinou a fazer. Odiar meu corpo gordo, maltratar meu corpo gordo, esfolar meu corpo gordo, até que ele fique magro, magro, magro, e aí, quem sabe, magra e quebrada, vocês finalmente acreditem em mim.

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