Código

“Fala comigo,” ele diz, e ela se assusta. É o código entre eles, aquele que diz, “você está sofrendo, e eu sei disso, mas eu estou aqui.”

Mas ele não sabe. Como pode saber? Há semanas não se preocupa em perguntar. Há meses fechou a porta que os ligava.

“Eu estou bem,” ela responde, um tanto incerta. “E você?”

“Bem também”.

Bem também. Bem também. Rima, como música. Rima mais ainda quando se lembra que são essas as únicas palavras que tem ouvido um do outro nos últimos meses.

“Que bom,” ela responde. A conversa morre, a mente dispersa.

“Fala comigo,” ela tem vontade de dizer. “Fala comigo como antes. Fala comigo sobre nossos sonhos, nossos anseios, sobre qualquer coisa que esteja passando na TV. Fala comigo sobre como eu sou o seu assunto preferido pra pensar antes de dormir. Fala comigo como se eu ainda estivesse na sua vida.”

Mas não diz. Não falam mais. Era código. Agora não é nada.

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