Bom, só algumas coisinhas antes de vocês lerem mais esse trechinho de loucuras da Babi!
– Já saiu o resultado da votação pra próxima Vídeo-Loucura! O próximo tema é: Bloqueio Criativo, vencedor com 11 votos 🙂 Em breve vocês vão descobrir no que essa loucura vai dar!
– A Bienal já é no mês que vem, e eu estarei lá mochilando durante vários dias. Enquanto a minha programação e os pontos onde vocês poderão me encontrar não sai, vocês podem escolher quais livros eu estarei vendendo por lá! As Bruxas de Oxford já é certeza, mas os outros vocês escolhem! A enquete está ali ao lado e vai até o fim dessa semana!
– Também falando em Bienal, no Blog da Trilogia vocês podem votar nos brindes que eu vou levar pra distribuir e também que vão acompanhar o kit do livro! Só mais 3 dias pra escolher, corre lá!
– E já que estamos falando de Bruxas, na página do facebook está rolando uma nova promoção – ou quase: assim que a página chegar a 400 likes vou sortear um e-book do livro! Não perca 🙂
Agora sim, vamos ao conto! Antes de ler, certifique-se de que você já leu as partes um, dois, três e quatro 🙂
A Ingrid surtou quando eu contei pra ela o ocorrido. Batia palmas e dava gritinhos enquanto pulava na minha cama incessantemente, e eu me limitei a observar e pensar no quanto eu estava ferrada.
– Por que você não está animada? É exatamente o que você precisava! – ela me disse, feliz da vida. Eu a olhei com aquela cara de “pirou?”
– Pirou, Ingrid? Não preciso de nada disso! Vai ser um desastre!
– Ai, cala essa boca! Vocês são perfeitos um pro outro!
– Como você tem tanta certeza?
– Eu não te contei, né? Lembra que o Gustavo estava mega pra baixo aquele dia que a gente saiu?
Puxei pela memória, tentando não lembrar de cenas mais recentes – sorrisos, muitos sorrisos e um Gustavo maravilhoso. Realmente, naquela sexta-feira em questão, ele estava bastante calado. Assenti com a cabeça.
– Então, é porque há mais ou menos um mês, ele foi abandonado pela noiva também. – a Ingrid contou, e eu ergui as sobrancelhas.
– Que coincidência! – exclamei, mas na verdade, o que eu estava pensando era algo mais ou menos como “que otária essa garota!”
– Eles iam de casar naquela semana, e ela simplesmente largou tudo e disse que não queria mais! – continuou a Ingrid, e eu, chocada, me perguntei quão pior teria sido pra mim se eu e o Jorge estivéssemos mais ou menos naquele ponto do relacionamento. Pra minha sorte, nunca tínhamos chegado além da enorme enrolação que tinha sido o nosso noivado.
– Ele deve ter ficado arrasado.
– Você deve imaginar. Ele passou semanas trancado em casa sem falar com ninguém.
Assim como eu. Ela não disse, mas eu sabia que a comparação estava implícita. Ela não entendia, mas, pelo visto, o Gustavo sabia muito bem como era sentir e viver aquele tipo de abandono.
– Eu não devia ter aceitado o convite. – eu disse, de repente, e a Ingrid me lançou aquele olhar de “você ta ficando maluca?”
– Aceitar esse convite foi a melhor coisa que você podia ter feito! – ela rebateu, me dando um tapinha leve no topo da cabeça – O Jorge não vai voltar, assim como a noiva do Gustavo também não vai voltar. Eu não sei se to mais surpresa por ele ter te convidado ou por você ter aceitado! E já que os dois fizeram a coisa certa, nada de ficar reclamando agora!
– Mas o que é que eu vou fazer, Ingrid? Eu nunca tive outra pessoa além do Jorge. Eu não sei como se fazem essas coisas!
– Ninguém disse que tem que rolar alguma coisa, ok? Vai com calma. Finge que está saindo com qualquer amigo seu.
Ahã. Fácil pra ela falar.
Quando, enfim, chegou a sexta-feira, eu já estava apavorada. Todos os dias, o Gustavo falava comigo no trabalho, e todos os dias eu sentia a vergonha consumindo o meu corpo de cima abaixo e não sabia o que fazer, como me comportar. Como era possível que pessoas como a Ingrid lidassem tão bem com esse tipo de coisa? Eu era um desastre!
Na sexta, o expediente passou rápido e, quando eu vi, já estava na hora. Troquei rapidamente de roupa e o Gustavo estava me esperando no meio do corredor deserto do shopping – o que só me fez sentir ainda mais pavor. Então a gente foi caminhando até o boliche, em silêncio.
Dava pra perceber que ele estava sorrindo enquanto andava, e que ele queria dizer alguma coisa, mas, felizmente, ele manteve o silêncio. Já estava ruim daquele jeito, pensei, imagine só se ele resolve puxar conversa. E se eu começar a gaguejar? E se eu falar alguma besteira? Meu Deus, e se eu falar alguma coisa que não devo?
Então eu pensei “ora, Babi, você já ficou bêbada na frente desse cara. Nada pode ser pior”.
Só então eu relaxei.
Chegamos ao boliche e pegamos uma pista. Enquanto eu calçava aqueles sapatos ridículos que somos obrigados a usar pra jogar, ele sorriu pra mim mais uma vez.
– Eu nem te perguntei, você gosta de boliche? – quis saber. Eu ri, de vergonha e porque ele realmente não tinha perguntado.
– Gosto. Faz um tempo que eu não jogo. – respondi.
– Ah, que bom. Então vai ser fácil ganhar de você.
– Não conte com isso!
– Tudo bem, eu vou ser bonzinho e jogar mal no começo, mas só porque você fica linda com essa cara de competitiva.
Quase morri.
Por que ele estava fazendo isso comigo, meu Deus? Ele não pode agir como um ser humano normal e sentir pena de mim depois que me viu naquela situação bêbada deplorável?
Peguei uma bola que eu conseguisse segurar e abri o jogo. Logo de cara, fiz um strike.
– Alguém está com muita sorte! – ele exclamou, indo pegar uma bola, e eu dei um cutucão nele.
Não me perguntem de onde eu tirei essa idéia brilhante!
– Faça melhor! – falei, rindo.
Conforme o jogo foi passando, fui ficando mais solta. O Gustavo era um cara legal, e jogava realmente muito bem. A maior diversão dele era me provocar pra ver se eu errava. A competição entre nós ficou bem acirrada até o final, quando eu venci ele por dez pontos de diferença.
– Eu deixei, eu deixei! – ele brincou, enquanto saíamos do boliche, em direção ao estacionamento praticamente vazio do shopping. Eu ri.
– Foi mal pela humilhação, eu deixo você ganhar na próxima!
– Ah, claro.
Os risos foram sumindo, e o ar frio da noite só acentuou o fato de que eu estava vermelha como um pimentão. Logo me bateu aquela vergonha de novo. Ele sorria de um jeito tão bonito que me deixava hipnotizada.
– Então quer dizer que, quando você está sóbria, é uma campeã no boliche? – o Gustavo disse, e eu corei. De novo.
– Eu não sou nenhuma bêbada. Aquela foi a primeira vez na vida que eu bebi!
– Ta brincando!
– Juro. E também foi a primeira balada que eu fui na vida.
– Meu Deus! O que você fazia nos finais de semana antes disso?
Baixei a cabeça sem responder. “Namorava”, eu pensei, mas não disse. Lembrar do Jorge e dos nossos finais de semana juntos me deu uma pontada aguda de dor no coração. E eu preferia o silêncio a admitir em voz alta que ainda sentia falta dele.
– Então… olha, desculpa por perguntar, mas aquele Jorge de quem você falava enquanto tava… – ele começou, meio desconcertado, e eu o olhei. Ele parecia curioso e incomodado.
– É meu ex-noivo. – respondi, em voz baixa. O Gustavo assentiu – Ele me deixou há um tempo atrás.
– Entendo. Passei por isso.
Mais silêncio. Então ele sorriu, e não teve como não sorrir junto.
– Mas quem liga pro passado? – ele estendeu a mão na minha direção – Vamos dar uma volta.
Ficamos andando pelo estacionamento, conversando. Descobri que ele tinha 25 anos, que estudava Comércio Exterior na faculdade e que estava tentando parar de fumar. E que ele já tinha morado na Argentina, e que o pai dele tinha ido morar na Espanha, e a mãe dele era uma católica fervorosa. Andamos e conversamos até cansar e, quando ficou frio, ele me deu o casaco dele e me levou pra casa.
(continua…)