O que você vai fazer da sua vida?

Fim de ano sempre vem com aquelas perguntas básicas, tanto de você pra si mesmo quanto dos outros para você – é um tal de tia querendo saber dos namorados, primo perguntando da faculdade, pai querendo saber se você já arranjou um emprego, avó cobrando que você perca uns quilinhos… mesmo que a gente não se preocupe em traçar metas todos os anos para o ano seguinte, muita gente faz isso por você.

Mas nenhuma pergunta me irrita mais nem me deixa mais angustiada que a fatídica “o que você vai fazer ano que vem?”


Ela é tão genérica, e ao mesmo tempo tão específica, que é impossível não ficar agoniada. Não é todo ano que ela aparece na nossa frente, mas quando resolve dar as caras, é sempre pra simbolizar o fim de uma fase e o início de outra pior. “O que você vai fazer ano que vem” é um jeito mais bonito de perguntar “o que você pretende fazer com a sua vida”. E, cá entre nós, essa não é a pergunta mais fácil de responder.

Tenho tantos traumas e problemas com essa pergunta que isso se reflete em praticamente todos os meus personagens protagonistas. Como escrevo sempre sobre jovens para jovens, acabo deixando esse pedaço meu escorrer pra todos os lados, lavando meus personagens naquela aura terrível de estar no meio termo entre ser criança e ser adulto, sem nunca saber exatamente pra que lado correr. É meu jeito de dizer, pros outros e pra mim mesma, que está tudo bem; você não precisa saber de imediato o que quer fazer da sua vida. É uma decisão delicada. Leva tempo. Nem sempre a gente tem maturidade pra fazer esse tipo de escolha. Como diz aquela velha (e põe velha nisso) música Filtro solar, tem gente mais velha que até hoje não sabe. Então tudo bem. Certo?

Por muito tempo, eu achei que o cerne do problema estava em escolher uma carreira. A gente passa anos da nossa vida estudando pra entrar numa faculdade, e dali pra frente, escolhe um rumo pra vida – ser médico, advogado, dentista, professor, arquiteto ou o que quer que a gente queira fazer. A pergunta “o que você vai fazer da vida” aparece pela primeira vez quando estamos menos aptos do que nunca a respondê-la. Quando chegou a minha vez, eu tinha um problema adicional: o que eu queria (e quero) fazer da vida, faculdade nenhuma pode me ensinar. Ainda não criaram um curso universitário pra formar escritores. Como eu ia enfiar isso na cabeça dos meus pais?

Mas o tempo passou, e depois, brincando com a sorte, acabei entrando na faculdade de Cinema. A gente se engana a vida toda achando que escolher o curso superior é encontrar a resposta pra todas as questões da vida adulta. Não é mesmo. Achei que entrar na faculdade fosse abrir meus horizontes e me trazer as decisões que a vida (e a família) me cobram, mas não foi bem assim. Passei mais quatro anos estudando, me dedicando, me dividindo entre o amor e a exaustão da descoberta. Mas agora que estou me formando e esses anos vão lentamente ficando para trás, a pergunta continua aí, e eu continuo sem saber como respondê-la: o que você vai fazer ano que vem? O que você vai fazer com a sua vida? Como diabos eu deveria saber?

Tenho planos, claro que tenho. Tenho sonhos, tenho vontades. Há uma porção de coisas que eu quero conquistar, lugares pra conhecer, metas pra alcançar. Mas tudo isso parece meio insubstancial quando a gente joga na roda desse jeito, em resposta a uma pergunta que, por mais genérica que seja, requer uma resposta específica. O que eu vou fazer ano que vem? Como eu pretendo chegar onde quer que eu queira chegar? Quais são as minhas metas, qual é o meu plano de ação? Ninguém nos ensinou a fazer isso, na escola, na faculdade, dentro de casa ou na vida. A gente aprende a sonhar, a ter desejos, a criar expectativas, mas ninguém pode nos dizer qual é o passo a passo pra chegar lá – logo, ninguém deveria cobrar esse tipo de coisa. A gente vai descobrindo no caminho.

Agora, 2014 está aí, na porta, só esperando pra entrar. Não, não sei o que vou fazer com a minha vida. Não, não sei exatamente o que vou fazer ano que vem. Arranjar um emprego fora da escrita, talvez? Publicar mais um livro, com certeza. Ganhar na loteria, arranjar um namorado, perder tudo numa enchente… como eu vou saber? Tem coisa que a gente deixa pro destino. Tem coisa que a gente batalha pra ter. E tem coisa – e acho que, no quesito vida, a maior parte se resolve assim – que a gente acaba descobrindo pelo caminho.

Tchau, tchau, 2013. E que venha 2014.

Bom Ano Novo, e boas descobertas novas pra vocês!

2 thoughts on “O que você vai fazer da sua vida?

  1. Vez e outra me pego pensando nas mesmas coisas. Por mais que ainda vá começar o Ensino Médio, de certa forma é nessa época que já jogam um pouco de pressão sobre você perguntando: o que você vai fazer da sua vida? Consegui driblar essa pergunta ainda por mias uns três anos, escolhendo uma escola sem curso técnico. Mas e quando esse momento chegar?
    Nem quero pensar no assunto. Vou viver um ano de cada vez. Quem sabe, até lá, eu aprenda a responder essa pergunta.

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