Ser ou não ser: escritor

Então eu sempre gostei de escrever. Quando era pequena, lá com os meus seis anos, e comecei a escrever minhas primeiras palavras, a primeira coisa que quis fazer foi contar histórias. Tenho cadernos de contos de quando tinha 7 anos. É uma coisa tão intrínseca à mim que não sei separar exatamente um momento da minha vida em que eu não estivesse escrevendo.

Mesmo assim, levei anos da minha vida pra ter coragem de dizer as palavras eu sou escritora sem sentir vergonha. Vocês sabem como é. As pessoas olham pra você como se você fosse um ET. Quem se auto-intitula escritor, afinal de contas? Não é esse um título que a gente recebe depois de reconhecido, depois de publicar um livro, depois de, como um médico, ter certa formação no assunto?

NÃO.

Não existe uma faculdade que te forme escritor. Ninguém um dia dá um diploma pra você e te diz “agora você está apto a escrever livros”. A gente se forma nisso na raça, todos os dias. Os livros que lemos não são necessariamente didáticos, mas nos ensinam muito. Todos os dias, estamos produzindo algo – novo ou não, não faz diferença. Praticamos até nos sentir exaustos. Temos vergonha do que fazemos às vezes, sim, mas também temos orgulho. Não é uma coisa que um dia ninguém é, e depois vira, magicamente. Não é um título. Às vezes me pergunto se sequer é uma profissão.

É uma escolha de vida.

Escrever significa doar-se. Significa abdicar de coisas que você gostaria de fazer com o seu dia pra terminar aquele capítulo, sacrificar horas de sono pra adiantar uma revisão. Significa aceitar não ser pago pelo prazer de ter seu trabalho (re)conhecido, significa às vezes conciliar vidas paralelas pra se dedicar a uma profissão que não te dá nenhum sustento além do espiritual. Escrever significa que às vezes o seu humor vai lá pra baixo porque seu personagem não está bem, ou que você vai ficar uma semana de luto pela morte de alguém que nunca existiu. Significa sonhar acordada e falar sozinha e encarar o mundo de uma forma ao mesmo tempo poética e mecânica, destrinchando as coisas e se perguntando como elas funcionam. Significa tanta coisa mais que um monte de papel publicado.

Então, se você aí que está lendo esse texto agora se identifica com uma, duas, ou todas as coisas que disse nesse texto, saiba: você é escritor. Não importa quanto tempo leve pras suas obras virem ao mundo, ou se elas sequer nascerão um dia; você já é escritor. E ninguém pode tomar esse mérito de você.

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